L@b-Crônica
Aventuras Literárias de um Escritor Aprendiz
Aqui você amigo poderá desfrutar de um pouco do que penso e do que vivo através de crônicas que escrevo com muito prazer. A arte de posicionar palavras sobre uma folha de papel é algo que deve ser feito com carinho e dedicação. Só assim cria-se um texto tão agradável aos olhos quanto o é um chocolate ao paladar. Seja bem vindo!
9.12.06
O Maníaco do Palio Branco
Brasília, 15 de outubro de 2006.
Brasília, 15 de outubro de 2006.
...............Quem nunca se deparou com o Maníaco do Palio Branco? Creio que qualquer motorista já teve o desprazer de cruzar seu caminho, pois tal meliante está presente em todas as ruas e avenidas do país, levando o medo e o perigo às pessoas de bem e aos motoristas prudentes. Vejamos uma história na qual o Maníaco do Palio Branco cruzou a vida de dois homens presenteando-lhes e também à sociedade mais uma vez com um final trágico e cruel.
...............Manoel, cujos amigos chamavam carinhosamente de Manoel Schumacher, dado seu volante audacioso, era um jovem bonito, boa pinta, cheio de namoradas e com um cargo público muito bem remunerado. Acabara de comprar um carro zero quilômetro, estava super feliz. O carro era muito confortável e possante. Uma verdadeira e perigosa arma nas mãos de um motorista imprudente.
...............Bernardo era um senhor de meia idade, pai de dois filhos, um menino e uma menina; era casado com uma típica perua de cidade grande que só se preocupava com roupas, jóias e “glamour”. Médico de renome, muito rico e muito famoso, tinha pavor de assaltos. De devido a um seqüestro no ano anterior, havia feito um curso de tiro, andando, desde então, sempre armado. Cogitara até mesmo blindar seu BMW do último modelo.
...............Manoel, naquela segunda-feira se atrasara para o trabalho, tinha apenas dez minutos para percorrer quinze quilômetros que separavam sua casa da repartição onde trabalhava. Sabia que ia ser advertido pelo patrão, um chato. Saiu com seu bólido a toda velocidade, como era de costume, e fazendo jus ao seu apelido de Schumacher, ia costurando todo o trânsito. Só que desta vez estava ainda mais aflito: parecia que os outros motoristas, que nada mais faziam além de respeitar a velocidade da via, pareciam lesmas atrapalhando sua corrida de Fórmula 1 individual. Ele buzinava tanto que mal parecia tirar a mão da buzina. Furava os sinais de trânsito e só parava naqueles que eram monitorados por radar de velocidade. Quando o sinal vermelho mudava para o verde, saía cantando os pneus em desabalada carreira, parecia que seu trabalho ficava ainda mais distante com todo esse desespero, mas chegaria lá, e no horário, nem que para isso tivesse que passar por cima daqueles motoristas molengões.
...............Bernardo passava pelo pior momento de sua vida, muitas coisas terríveis tinham acontecido durante aquela última semana: uma desastrosa discussão com a filha adolescente que engravidara de um rapaz desconhecido que encontrara numa festa “rave”, dessas onde as pessoas consomem álcool e drogas. Ele estava arrasado, se tivesse trabalhado menos e dado mais atenção à sua filhinha isso não teria acontecido. Na sexta-feira seu filho despeja uma bomba naquela família já perturbada: assumiu que era homossexual. Bernardo ficou louco e se perguntava oquê havia feito de errado no mundo para merecer tudo aquilo. Para finalizar, após um pesado plantão no hospital, chegara mais cedo em casa no domingo, surpreendendo sua mulher aos beijos com um garoto, seu amante. Reconhecera-o, era um dos amigos de seu filho. Eles estavam praticamente nus dentro do carro da esposa na garagem de casa. Era demais para ele. Bernardo, estarrecido com aquela cena de adultério explícito, simplesmente engatou a marcha à ré e saiu desorientado parando em um bar que freqüentava com amigos. Um litro de uísque seria seu companheiro durante toda aquela triste noite de domingo.
...............Na manhã seguinte, uma baita segunda-feira, perambulando com sua BMW sem destino certo, Bernardo não queria ir para casa, tinha chorado a noite inteira, estava ainda um pouco embriagado pelo uísque e segurava seu revólver; Tinha decidido: iria se suicidar e deixar de vez aquela vida tão amarga e artificial. Havia chegado ao fundo do poço. Dirigia lentamente ao longo da avenida, e ao contemplar aquela arma que tiraria sua vida, sem querer invadiu com o carro a pista à esquerda.
...............Manoel, desembestado, atrasado e muito irritado ao ver mais um molenga entrando em sua frente buzinou, mas percebendo que o carro não sairia de sua frente, pisou no freio com toda a força para evitar uma colisão. Os pneus do carro de Manoel cantaram deixando marcas no asfalto, e o choque apesar de fraco, fora inevitável. Bernardo se assustou letargicamente com a batida, e pensara: “Não me faltava mais nada, bati com o carro, a hora é agora.” Engatilhou seu 38 levando-o vagarosamente em direção à têmpora direita, seu dedo tenso no gatilho, lágrimas corriam de seus olhos descrentes em despedida.
...............Eis que nesse mesmo instante, Manoel desce do carro enfurecido, prostra-se em frente à janela do carro de Bernardo, disposto a partir para a briga. Estava tão transtornado de aquele imbecil ter lhe fechado e amassado seu carro que sequer percebeu a situação de Bernardo dentro do carro. Começou a proferir-lhe palavrões em gritos e gesticulava descontroladamente.
...............Bernardo, com os nervos à flor da pele, vendo aquele desconhecido agir de forma tão rude para com ele, e não tendo nada mais a perder na vida, tirou o cano do revólver de sua cabeça e disparou três tiros certeiros contra o peito de Manoel, fechando aquele triste ensejo com um derradeiro e fatal tiro no ouvido. Foram quatro tristonhos estampidos que ecoaram como gritos de dor ao longo de toda a avenida, que se movia freneticamente. Os motoristas passavam e observavam de suas janelas aquela cena corriqueira, uns com pesar, outros com indiferença.
...............O chefe de Manoel o esperará durante toda a manhã, sua família chorará em seu enterro e seus amigos comentarão que tudo fora culpa daquele bêbedo suicida, esquecendo-se do quão imprudente era seu finado amigo no trânsito. Bernardo não voltará para casa e sua família só ficará sabendo do acontecido com as manchetes de jornal, já, sua mulher e os filhos contratando um advogado para os procedimentos de espólio.
...............No necrotério, juntos, descansarão numa mesa gélida os corpos daqueles dois atores principais de mais um ataque do Maníaco do Palio Branco, cujo espírito invade motoristas em todo o mundo: pacatos pais de família, mulheres responsáveis e trabalhadoras, e jovens ao volante desconhecedores dos perigos do trânsito, transformando-os assim em máquinas de poder letal para destruir vidas, planos futuros, famílias e paz.
...............Pois bem, caso você conheça esse maníaco, que pode ser seu pai, um de seus irmãos, filhos, um amigo, vizinho, qualquer outro conhecido, ou que até mesmo seja você, lembre-se da história de Manoel e Bernardo, e saiba que muitas outras histórias com final tão trágico, ocorrem por que o espírito do Maníaco do Palio Branco invadiu a mente de um pacífico motorista que contribuiu portanto para essa tão pesarosa estatística da falta de paz no trânsito. Ao sentar-se ao volante, respire fundo, relaxe, coloque uma música suave e responda sempre com um largo e sincero sorriso a quaisquer insultos que provenham de Maníacos do Palio Branco pelas ruas e avenidas desse mundo. Não faça como Manoel, que morreu estupidamente, tal qual o operário de Chico Buarque: na contramão, atrapalhando o tráfego.
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4Comentários:
Esta é sem dúvida a nossa rotina de seres automatizados.
Excelente sua crônica amigo Daniel.Nos faz ver, como somos imbecis ao conduzirmos a nossa vida.
Com certeza vou me lembrar do Manoel nas horas de aflição,e pensar nos Bernardo que vivem a perambular ai pelas vias da cidade.
Alcione Naciff Frazão.
meu caro amigo daniel,
É com imenso prazer que leio suas cronicas e acho muito legal e interessante suas estorias.cara,vc e bom nisso. parabens e continue assim. muita luz e paz. feliz natal e um ano novo repleto de emoçoes novas
Daniel, bom dia,
vc retratou nessa crônica, o que acontece praticamente
todos os dias em todas as cidades.
Mais uma vez, parabens.
Eduardo Guimarães Figueiredo
Daniel,
Um abraço.
Gostei muito de sua crônica, realmente o trânsito está cheio de maníacos que se sentem donos das ruas, que são públicas.
Yolanda
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