18.11.06

Crônica nº 008 - Santa Paternidade

Santa Paternidade

Brasília, 20 de setembro de 2006.


...............Um imenso sentimento de felicidade hoje me tomou de súbito, confundindo meu corpo: o peito arfando compulsivamente, o estômago gelado, as pernas bambas, um largo sorriso nos lábios, gargalhadas internas incontroláveis acariciando minhas costelas e lágrimas escorrendo vagarosamente em minha cara de bobo alegre. Estou rindo à toa.
...............Acabei de saber que serei pai, aliás, que já sou pai. O resultado do exame de sangue de minha esposa diz: 793,20 mUI/Ml e Valores de referência: não gestantes – abaixo de 5,0 mUI/Ml, ou seja, ela está grávida, e eu, incontestavelmente, dados esses valores, serei pai. Não há medida, meu caro amigo leitor, capaz de expressar a felicidade que agora estou sentindo.
...............Bateu-me uma vontade de sair abraçando todos pela rua, mas me contive. Liguei para minha esposa que também já sabia o resultado do exame, tinha a voz receosa mas claramente feliz. Estávamos ambos atordoados com a notícia, visto que não havíamos planejado esta gravidez e tínhamos sido pegos de surpresa. Depois, fui ligando para meus pais, familiares, amigos, tentando compartilhar desse momento tão singelo da minha vida.
...............Ainda agora muitos planos rolam pela minha mente. Um fortíssimo senso de responsabilidade surgindo, como deve ser costumeiro nos novos papais: vou trabalhar mais, vou estudar mais, vou economizar mais, essas coisas. Outro sentimento marcante é um doce temor pelo desconhecido que bate severamente à minha porta: E agora, como será? Será isso? Será aquilo? São tantos “serás” que fico atordoado.
...............Como é que pode um ser ainda microscópico e que mal tem duas ou três semanas de vida já proporcionar-me mais sentimentos do que todos aqueles que já senti durante os vários anos de minha vida adulta? E isso em tão poucos minutos? Olha, quando dizem que somente aqueles que já passaram por isso é que sabem o que estou dizendo, não é mentira, só a paternidade traz sentimentos tão fortes. Vou precisar preparar muito bem meu coração, pois já me imagino explodindo de contentamento no dia do nascimento.
...............Sei que muitos pensarão: “- Oh, coitado, não sabe o que lhe espera!”, outros dirão: “Te prepara rapaz, serão noites e noites em claro!”, ou ainda: “Pode começar a preparar o estômago para as fraldas cheias de cocô verde bomba atômica de efeito moral e gás lacrimejante!”.
...............Mas tudo isso não me desanima, ao contrário, eu quero mesmo é abraçar meu filhinho, ou minha filhinha, com muito amor. Quero ficar horas olhando aquele anjinho dormindo confortavelmente entre nós, quero ouvir sim aquele chorinho no meio da noite e ir até lá reconfortar meu filho, transmitir-lhe segurança e paz. Quero tirar muitas e muitas fotos, comprar uma filmadora, registrar cada progresso de sua vida, os primeiros passinhos, o primeiro “mamãe” e é claro, também o primeiro “papai”, quero mimar muito, cuidar muito, educar muito, ser o melhor exemplo de pai que um filho pode ter, redobrando a vigilância de meus atos para que possa passar ensinamentos de responsabilidade, moral, ética, respeito, educação e amor.
...............A paternidade é uma dádiva que Deus delegou aos homens, agora pais, para perpetuarem sua essência mais íntima, ou seja, sua sabedoria. É a renovação da vida, a possibilidade de fazer tudo melhor, de se reinventar e encaminhar esse novo ser a um mundo cheio de perigos e desafios.
...............Hoje agradeço a meu querido pai por ter me ensinado tudo isso que até há poucos momentos nunca havia percebido. Sei que vou errar muito, que serei às vezes tolo, às vezes inexperiente, às vezes inseguro ou um pouco rígido demais. Agora sim saberei o que é ser filho, pois serei pai, e meu pai saberá o que é ser pai, pois será avô. É assim a lei da vida, não se nasce sabendo as coisas, aprende-se com ela, na marra.
...............Agora é a minha vez e sei que estou preparado para enfrentar este desafio, talvez o mais importante da minha vida, aceitei de corpo e alma a missão de não medir esforços para ser o melhor pai do mundo para meu já imensamente amado filho. E que venham as fraldas!


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Postado por Daniel Duarte Ramos às 3:52 PM  


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